Show “Chico & Tom” homenageia o alinhamento de duas estrelas da MPB no Clube do Choro
Espetáculo no Clube do Choro reflete o legado de dois gênios da canção brasileira com arranjos e direção do maestro Joaquim França
No dia 28 de agosto, às 20h30, o palco Clube do Choro de Brasília abre suas cortinas para a celebração de um encontro de almas. Em um tributo costurado com afeto, sofisticação e poesia, o espetáculo “Chico & Tom” presta homenagem à amizade e à parceria musical entre Tom Jobim e Chico Buarque — dois nomes que, quando unidos, fizeram da canção brasileira um terreno de beleza rara e emoção latente. Sob a direção musical do maestro Joaquim França, que assina os arranjos e se apresenta ao piano, a noite promete resgatar não apenas canções inesquecíveis, mas também as atmosferas, os sentidos e as lembranças que marcaram gerações.
Tom Jobim e Chico Buarque encontraram um no outro um espelho artístico delicado e profundo. Quando se uniram, não foi apenas uma colaboração entre dois gênios — foi o encontro entre gerações, entre o lirismo harmônico de Tom e a poesia moderna e pungente de Chico. Apesar da diferença de idade e de formação musical, havia entre eles uma sintonia afetiva e criativa rara, que se manifestava tanto na admiração mútua quanto na fluência das parcerias. Tom via em Chico um herdeiro legítimo da elegância e da densidade da música brasileira. Chico, por sua vez, considerava Tom uma espécie de farol: um mestre cuja sofisticação harmônica revelava novos caminhos para a palavra cantada.
O espetáculo passeia com delicadeza por esse rico repertório, incorporando também joias como “Valsinha”, “Maninha”, “Insensatez”, “Modinha”, “Samba da Mangueira” e “Se Todos Fossem Iguais a Você” — pérolas que demonstram não apenas domínio técnico, mas uma espécie de entrega sutil — como se uma parte começasse onde a outra termina. Tom, mais introspectivo e contemplativo, oferece melodias que parecem suspensas no tempo, feitas de silêncios e suspiros. Chico, atento ao detalhe humano e ao subtexto emocional, preenche esses espaços com letras de uma precisão quase cinematográfica. É esse alinhamento estelar que será evocado no Clube do Choro, como aponta a produtora Tita Lyra: “são canções com profundidade melódica e literária, sem concessões, mas acessíveis e comoventes para qualquer ouvido sensível”.
As vozes que conduzem essa viagem são de Mayara Dourado e Leonel Laterza, intérpretes de extrema sensibilidade, capazes de imprimir verdade tanto nos sussurros quanto nos ápices. A instrumentação, meticulosamente orquestrada, reúne nomes consagrados da cena brasiliense: Kathia Pinheiro (violino), Ocelo Mendonça (violoncelo), Doni Alcântara (contrabaixo) e George Lacerda (percussão), músicos que transitam com fluidez entre o erudito e o popular, o sutil e o pulsante.
À frente desse universo sonoro está o maestro Joaquim França, cuja trajetória é marcada pela elegância nos arranjos, pelo compromisso com a cultura local e por uma escuta refinada do tempo e do outro. Sua regência é um convite à escuta generosa e à beleza simples — aquela que nasce da honestidade da música feita com alma.
A história da MPB foi profundamente marcada por essa aliança discreta e brilhante, onde cada encontro gerava não apenas uma nova canção, mas uma nova maneira de compreender a música como linguagem do sentimento. Juntos, transformaram a canção brasileira em território de beleza duradoura, feita de lirismo, melancolia e amor.
Mais do que um espetáculo, “Chico & Tom” é um reencontro com o Brasil lírico, melancólico e brilhante que pulsa nas canções desses dois mestres. É também uma celebração da memória viva, que se renova a cada nova interpretação, a cada novo ouvido que se deixa tocar. Uma noite para sentir, lembrar e se deixar levar.
